Em uma tarde chuvosa e fria de domingo, estava eu entediada sem ter o que fazer, sentei-me em frente ao computador e tive a ideia de criar um perfil em um daqueles sites de relacionamentos onde procuramos muito mais que amizade. Escolhi minha melhor foto e coloquei na página principal, eu não me considerava lindíssima, mas tinha uma beleza razoável. Há alguns meses eu, Luana, terminei meu último relacionamento e ainda estava muito magoada. Entrei no site, principalmente com esperança de melhorar minha autoestima. Por isso não levei muito a sério aquela nova experiência, mas fiquei olhando as fotos dos rapazes, possíveis combinações. Não demorou muito, comecei a receber solicitações para conversas. Aceitei algumas, o papo era pouco original e fiquei inquieta, pensei em sair, quando um rapaz moreno de olhos castanhos com grandes cílios negros me chamou a atenção, aceitei a solicitação dele. Esse tinha uma conversa agradável, assuntos variados foram surgindo e quando percebi duas horas se passaram e nem notei. Precisava desligar, pois eu tinha combinado sair com uma amiga. Despedi daquele belo rapaz e prometi ficar online mais vezes para conversarmos.
Nada comentei com minha amiga sobre Murilo, aquele amigo virtual. Depois daquele dia passamos a conversar todas as noites usando o Skype, porém sempre teclando, para minha surpresa ele não me pediu para nos vermos usando a webcam. Como ele não fez essa solicitação fiquei meio envergonhada de pedir para vê-lo.
Dois meses depois, eu me sentia cada dia mais ligada ao meu novo amigo e notava reciprocidade. Pois ele jamais faltava noite alguma, estava sempre ali online a minha espera no horário combinado. Sempre deixamos claro que era apenas amizade, ele jamais havia pedido para nos encontrarmos fora daquele mundo virtual ou mesmo para nos comunicarmos usando webcam. Eu sentia uma certa curiosidade em vê-lo, mas logo desistia da ideia . Estávamos nos dando tão bem assim, as conversas eram divertidas e estavam fazendo bem a nos dois.
Depois de algum tempo passamos a nos comunicar pelo celular em vários momentos do dia. Os meus amigos começaram a notar que eu saia menos com eles e estava sempre um pouco distraída, mas pensavam que era por causa do meu antigo namorado e até estavam preocupados comigo.
Finalmente chegou o dia em que Murilo pediu se podíamos usar a webcam. Eu aceitei prontamente e fiquei ansiosa para vê-lo. A pessoa que eu vi sentado em uma cadeira próximo a mesinha do computador não era nada diferente do rapaz moreno das fotos. Ele deu um sorriso meio tímido e incerto, eu também estava nervosa e um pouco insegura. Parecia que iríamos conversar pela primeira vez, no início ficamos meio sem assunto, mas depois tudo deu certo. Ele parecia feliz em me ver e eu estava feliz por finalmente poder ver suas expressões corporais e sua forma cativante de sorrir.
Dai em diante e ele pedia para abrir a webcam uma vez ou outra, mas não com muita constância. Mas para mim estava bom, eu gostava de conversar com ele e não me importava de não vê-lo sempre.
Eu notava que cada dia eu ficava mais apaixonada e tinha um certo receio dessa nova situação, pois nunca tinha gostado de alguém nessas circunstâncias.
Nos continuamos a nos tratar como amigos, aliás, eu notava que ele fazia questão de deixar claro que ele não desejava mais que isso. Mas meu coração queria mais, talvez fosse apenas uma ilusão e que esse sentimento sumisse quando o encontrasse pessoalmente. Queria muito ter esse encontro pois apenas assim eu poderia ter certeza se esse sentimento iria prevalecer em mim ou desaparecer. Eu ficava preocupada ao notar que cada dia mais me afastava dos meus amigos e me fechava para outro relacionamento, ninguém mais me provocava interesse , apenas aquele encantador rapaz moreno de grandes cílios negros.
O convite para o encontro partiu da minha pessoa e não dele. Eu estava muito ansiosa para encontra-lo e não queria esperar até quando ele decidisse me convidar para isso. Sentia que precisava vê-lo para descobrir se eu tinha por ele sentimento maior que apenas amizade, ficava preocupada de ficar nutrindo um amor ilusório. Porém, para minha surpresa, ele não aceitou o convite prontamente como eu esperava. Explicou que como éramos apenas amigos ele não via necessidade de nos encontrarmos. Fiquei muito sem graça e disse que precisava desligar.Achei que ele iria aceitar o convite, pois morávamos na mesma cidade. E já conversávamos há muito tempo e os amigos também podiam se encontrar.
Fiquei dois dias offline e quando ele me ligava eu dizia que andava um pouco ocupada e desligava rápido. Quando voltamos a conversar notei que ele se afastava cada dia mais e nada era como antes. Ele começou a demorar a ficar online e sempre tinha uma desculpa boba, que me irritava. Até o dia que ele finalmente disse que tinha conhecido uma pessoa e que estava começando um relacionamento e que não iria poder manter mais o contato frequente comigo. Depois daquele dia ele apareceu uma vez ou outra e desapareceu, nem contato por telefone mantivemos mais.
Fiquei muito abalada com a perda da nossa amizade. O perfil no site onde eu o encontrei foi deletado, o telefone não recebia mais ligações e eu nunca tive o endereço dele, muito menos sabia onde trabalhava , nada sobre seus amigos. Era como se tivesse morrido um alguém de quem eu gostava muito. Mas procurei continuar a minha vida, mas sempre lembrava dele. Eu tinha algumas fotos que ele tinha me mandado por email no começo do nosso contato, quando sentia muita saudade eu as olhava, ali podia ver um rapaz sorridente, alegre e livre. Ele era alguém que tinha paixão por liberdade, esportes, notava isso nas nossas conversas e nas fotos, uma delas ele estava brincando na areia com uma bola com vários rapazes e outra ele estava correndo em um parque.
Três meses se passaram, apesar dos amigos ficarem empenhados em me arrumar um namorado eu ainda não me sentia disposta a me interessar por alguém. Mas todos pensavam que era a perda do meu antigo namorado que era responsável por esse medo de me relacionar de novo. Nunca contei para ninguém sobre o Murilo.
Para me sentir melhor resolvi mudar a cor e o corte dos meus cabelos. Antes castanho dourado, agora mais claros e bem mais curtos. Estava disposta a começar um novo relacionamento e continuar minha vida sem tristezas , matar aquela saudade em mim. Estava sempre saindo nos finais de semana, sempre bem disposta e fazendo o possível para me divertir.
Em uma noite de sábado, aceitei o convite de um amigo antigo para um jantar, notei um certo interesse maior que amizade da parte dele e resolvi dar uma chance a nos dois. Ele era divertido e eu sorria muito das bobagens e brincadeiras dele. E por estar distraída rindo, esbarrei em algo na entrada do restaurante. Fiquei assustada ao constatar que quase tinha provocado um acidente. Eu tinha esbarrado em um homem em uma cadeira de rodas que prontamente, assim que abri passagem, controlou sua cadeira em direção a saída e desapareceu do meu campo de visão. Mas naquele rápido intervalo de tempo, nossos olhos se cruzaram e pude reconhecê-lo. E fiquei muito chocada ao constatar que aquele homem paraplégico era Murilo, o meu amigo virtual.
Fiquei tão surpresa e com os sentimentos tão embaralhados que o meu acompanhante percebeu que eu não estava bem. Tentei me recompor o máximo possível, mas mesmo assim era visível meu mal estar. Assim que pude, com a desculpa de ir retocar a maquiagem, sai da mesa e busquei o garçom que eu tinha visto auxiliar Murilo com sua cadeira de rodas.
Assim que o encontrei, perguntei se ele conhecia o rapaz que ele havia ajudado. Ele me olhou sem entender, mas respondeu que sim, que era cliente antigo daquele local. Aproveitando a chance e boa vontade, indaguei se havia pouco tempo que aquele homem usava cadeira de rodas. O garçom com jeito surpreso disse que não, que há mais de 3 anos ele frequentava o restaurante e já estava paraplégico. Eu quis perguntar se ele sabia o que havia causado o problema, mas achei que o garçom poderia achar indiscrição demais.
Voltei para a mesa e fiquei feliz quando fui levada para casa, eu não conseguia parar de pensar no meu amigo virtual.Naquela noite não dormi, fique revendo tudo que Murilo havia me contado, todas as nossas conversas. Percebi o motivo dele sempre estar sentado quando eu o visualizava na webcam e o porquê dele deixar se ver apenas parcialmente. Provavelmente esse era o motivo dele não ter aceitado o convite que eu lhe fiz para o encontro. Ele jamais me disse que era paraplégico , muito pelo contrario, sempre me fez ter uma ideia de uma pessoa que corria todo os dias pelas manhã no parque e sempre que podia nadava no mar. Inclusive nas fotos do perfil e as que ele me havia me mandado estava sempre praticando algum esporte. Por isso nunca passou pela minha cabeça que ele tivesse algum problema físico.
Naquela mesma semana consegui o endereço do meu amigo virtual através da ajuda do garçom, com o endereço em mãos e com o coração aflito fui com destino certo a casa dele. Eu precisa resolver aquele sentimento dentro de mim e para isso tinha de encontrá-lo. Com o coração acelerado toquei a campainha e aguardei, não sabia como ele poderia me receber, talvez fingisse que nem me conhecia ou ficasse muito irritado ao me ver. Depois de alguns instantes, percebi que a porta estava sendo aberta e em seguida Murilo estava a minha frente. Notei em seu rosto uma grande surpresa. Depois de se refazer, convidou-me para entrar e pude perceber que a casa era toda planejada para ele poder viver ali de forma independente. Deu para notar que ele vivia sozinho.
Depois de um tempo, ficou mais a vontade e me contou sobre o acidente de automóvel que ocorrerá há 5 anos e que o tornou paraplégico. Narrou as dificuldades do início e das atuais. E disse como ficou preocupado com a minha rejeição quando soubesse da condição física dele. E por isso que não aceitou me encontrar.
Ali naquele dia recomeçamos uma nova história, nosso amor cresce como passar do tempo e conseguimos superar todas as dificuldades. Há seis anos estamos juntos e felizes, muito felizes. Meu amigo virtual se tornou meu amor real.
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